sexta-feira, 25 de abril de 2008

Do outro lado do tempo

Há trinta e quatro anos, por esta hora, o sol do Portugal em que nasci desaparecia no horizonte da história. Vivo hoje num Portugal à procura de sentido. Que é feito desses heróis do antanho que rasgaram mares revoltos e desbravaram plagas africanas; que deram a volta ao mundo e descobriram novas gentes; que levaram Cristo ao coração e à alma de gentios; que plantaram padrões nas praias de continentes remotos; que deixaram esta nossa Língua Lusa inculturada nas raças de toda a Terra? Que é feito de Gama e de Camões; de Vieira e de João de Brito; de Albuquerque e de Cabral; de Mouzinho e de Magiollo? Foram todos uns tolos, que nunca pensaram - insensatos! - que seriam julgados por consciências de «libertadores» do futuro?!... Onde param esses heróis que defenderam e construíram o Portugal onde nasci? E como vivem hoje os que rasgaram páginas da História, pelo preço de uma utopia libertadora que adulterou e subjugou o conceito de Liberdade?

sábado, 19 de abril de 2008

Os novos pecados sociais... (e políticos!...)

Parece que a sociedade de que fazemos parte ficou escandalizada por a Santa Sé se ter pronunciado, recentemente, por uma nova lista de - dizem - «modernos» pecados.

A comunicação social deu disso conta, e reagiu. Organizou debates. Explorou, como sempre, a situação, com carácter depreciativo para com a Igreja Católica.

Acompanhámos, por acaso, um desses programas, em que era moderadora uma jornalista de apreciável mérito profissional, mas de manifesta incultura religiosa: a ponto de, ao referir-se ao Santo Padre (Bento XVI), frequentemente o apelidar de «o santo papa».

Não vamos perder tempo aqui com comentários sobre esse programa, embora valesse a pena. Principalmente, porque mui dignas foram, e esclarecedoras, as intervenções de dois dos participantes, competentes na matéria: um professor universitário, da área de História, e o padre Feitor Pinto. Uma terceira figura no debate, uma ex-deputada do partido comunista, sobejamente conhecida pela sua “verbe” exuberante e mímica teatral, bem aproveitou o seu «tempo de antena» para desferir contra a Igreja Católica aquelas acusações a que já estamos habituados sobre factos passados e outros entendidos como actuais, mesmo reconhecendo que João Paulo II, em nome da Igreja, se penitenciara, nos tempos de hoje, por aquilo que, infelizmente, de negativo a História guardou memória (fruto dos tempos de ontem mas aferido pelas consciências de hoje). Assim tivessem coragem semelhante para proceder de igual modo, os responsáveis politico-ideológicos que herdaram e ainda contabilizam o tenebroso saldo de mortes, de violações e de terror, de tantas ditaduras e de tantas guerras que a ambição do poder temporal espalhou e continua a espalhar por todo o mundo!...

Mas há pecado? O que é o pecado?

Há uma tendência cada vez mais generalizada - por deformação cultural, e talvez por superficialidade catequética... - em situar o pecado apenas na relação do homem com Deus. Este conceito radicava-se tanto nas religiões politeístas como no entendimento bíblico do pecado original. Foi o Cristianismo que veio «humanizar» o conceito de pecado, ao mesmo tempo que «humanizou», também, o conceito da misericórdia e do perdão. O Deus dos cristãos fez-se homem, em Jesus de Nazaré, e, no sacrifício supremo da cruz, suportando toda a carga pecaminosa da Humanidade, mostrou, até ao infinito, até ao inconcebível, que há um rosto humano-divino ferido de morte pelos malefícios (pecados) dos homens. E mostrou também que o pecado e a morte não têm poder definitivo sobre o destino da Humanidade, pois está sempre rasgado e aberto o peito humano de Deus, onde sangra de amor o Coração divino, para acolher o pecador arrependido

O «Pecado» não é apanágio das religiões. Se fosse, as ideologias não teriam instituído as humilhantes sessões públicas, «redentoras», de «autocrítica» (de confissão de «pecados» ideológicos, de ofensas ao «Partido»), nem os «purgatórios» dos «Gulags», nem os «infernos» das «câmaras de gás» e dos «fornos crematórios» do nazismo.

Dificilmente o pecado, em sentido moral, é assumido como ofensa contra o próximo, e contra si mesmo; muito menos contra a sociedade em geral; e nunca contra a própria Natureza criada. Nos Estados, os «pecados» de cidadania são abrangidos pelos institutos da contra-ordenação e do crime: infracções menos ou mais graves contra as leis formuladas. Daí, a contrapartida reparadora das coimas e das penas impostas pelos tribunais, os arrestos na praça pública e as prisões.

Quando numa sociedade se perde a noção do dever e do pecado, cai-se depressa no individualismo mais atroz... No narcisismo - que o Padre Amedeo Cencini declara ser um dos maiores males da sociedade actual (VP, Voz Portucalense, de 9 de Abril corrente).

Numa sociedade organizada pode não haver lei penal a caracterizar como crime um acto censuravelmente grave praticado por um cidadão; contudo, esse acto pode ser moralmente ofensivo da liberdade, da dignidade, da integridade e, mesmo, da vida humanas. Muitas das prisões com mandados de captura assinados em branco, efectuadas em Portugal, no período revolucionário de há três décadas atrás, apesar de terem sido actos execráveis... - pecados morais reprovados pelo senso comum, não foram tipificadas como crimes, por não haver lei penal anterior, militar ou civil, que as contemplasse. E todos sabemos que, mais recentemente, o aborto livre, por opção da mulher, até às doze semanas de gestação, deixou de ser penalizado, o que não significa que passasse a ser um acto moralmente inócuo para uma consciência bem formada. Continua a ser um pecado, contra a vida, contra a liberdade, contra o direito de nascer! Um pecado contra o Homem e contra Deus - autor e Senhor da vida!

Poderemos, então dizer que o pecado é, apenas, uma questão de consciência?

O pecado é, objectivamente, uma ofensa (consciente, livre e voluntária) contra o homem, contra a Natureza, contra a Humanidade em geral. Todos têm liberdade de pecar, mas a ninguém é dado o direito de o fazer. O homem só se realiza como tal na doação do amor: no serviço ao seu irmão e na adoração ao seu Criador. Por isso o pecado, em sentido religioso, é, também, uma ofensa contra Deus, que é o Amor sem limites. E ninguém ama a Deus, se ofende, se odeia o seu irmão. Ninguém ama a Deus, se ofende, se prejudica a Natureza, criada para serviço da Humanidade. Uma consciência que não tem sensibilidade para reconhecer o pecado (o mal praticado), tudo faz, tudo permite, tudo ambiciona, tudo violenta.

A sociedade em que vivemos interpela-nos sempre de modos novos, a solicitar-nos novas e diferentes atitudes, a influenciar novos comportamentos, a imputar-nos novas responsabilidades. A interdependência social e política das populações implica corresponsabilidade, e esta exige solidariedade, justiça comunitária, promoção e defesa do bem comum. Estamos no mundo das novas tecnologias, das comunicações sem fronteiras, das novas descobertas científicas, da economia global, e do aquecimento do planeta provocado pela maneira como o homem trata a sua casa comum; é também o mundo da dominação política e financeira, onde campeiam ambições desmedidas, opressões, vinganças, a gerarem o terror da guerra e genocídios apocalípticos de populações. Ninguém pode sentir-se de mãos limpas e indiferente perante o sofrimento alheio.

A guerra, a manipulação genética, o tráfego e uso das drogas e do álcool, a desigualdade e injustiça na sociedade, a violência, a exploração sexual de jovens e crianças, o desemprego, a fome de populações inteiras, a poluição do ambiente, as mortes da estrada – são alguns dos aspectos sociais perante os quais não podemos ficar de braços cruzados e de consciência tranquila, à espera que a solução das ameaças e conflitos desça milagrosamente do céu. Pecados sociais, colectivos, que radicam nos pecados individuais, por acção e omissão, de cada um.

Numa sociedade que se diz democrática, todos somos responsáveis pelos males que proliferam à nossa volta, porque de algum modo podemos fazer algo para minimizar a sua existência e as suas consequências. Temos obrigação grave de fazer o possível para salvar a sociedade e o mundo, através de acções públicas concretas, mas também por meio de organizações não governamentais e pela intervenção política ao nosso alcance.

Os males sociais que se assumem como «pecados sociais», são também pecados políticos, na medida em que os políticos olharem mais para a sua promoção pessoal e para as suas ambições de poder, deixando para segundo plano, se não para total passividade, a melhor ordenação da grei e os interesses do bem comum.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Esperança

Tu és a Esperança que irradias por trás das nuvens tenebrosas. Tua és a certeza da Concórdia e da Paz no Teu Amor que cura a angústia que amesquinha. Tu és a alegria luminosa da Ressurreição que vence a morte e rasga a noite das incertezas. Misericórdia, Senhor, para a infidelidade que sou, para o nada da minha humanidade decaída. A quem iremos ?!... Só Tu és a garantia da vitória final. Só Tu tens palavras de Vida, de Vida Eterna.