sexta-feira, 22 de julho de 2011

Para que da Memória se faça História

A Cruz, ...da Memória
Tínhamos chegado há pouco tempo a Tomboco, onde ficara a sede do Batalhão. Ocupávamos instalações remanescentes de uma missão católica, de que restavam ainda dois missionários espiritanos: um holandês e outro alsaciano. Habitavam a cerca de duzentos metros, do nosso aquartelamento, e ali havia uma capela onde podíamos assistir à missa dominical. Estabelecemos bom relacionamento com eles.
A área em redor era amena e exuberante. Não havia, naquela altura, ameaça de guerrilha activa. Mesmo assim, efectuávamos patrulhamentos de rotina, e desenvolvíamos, nas sanzalas próximas, actividades de apoio às populações, dentre as quais a catequese e a instrução escolar.
Recordo que o General Venâncio Deslandes, pouco antes Governador de Angola, e recentemente demitido, havia promovido uma “revolução” no Ensino, em todas as vertentes, desde o primário à criação da Universidade de Luanda. Tal contrariou o Governo central de Portugal e originou a “queda” do Governador, que também assumia as funções de comandante-chefe das Forças Armadas, no território.
Ora, tendo eu pedido ao missionário que me fornecesse material de apoio para o ensino das crianças, na escola, foi ele buscar alguns manuais que achava muito a propósito, dentre eles a “Cartilha Maternal”, de João de Deus, mas recomendou sigilo, pois os métodos do “Deslandes” já não estavam em vigor... De facto, quando Venâncio Deslandes deu em Angola o “pontapé de saída” para uma “revolução” pacífica na Província, parecia ter começado uma nova era... Não logrou êxito, porém. A Politica é uma coisa complicada... O que parece, pode não ser. E ficámos, nessa altura, com a manutenção do “statu quo”, sem saber o que viria a dar o empenho e desassombro do general governador. O poder entendeu... que ele tinha ido longe de mais, à revelia de quem mandava! Mas voltemos ao fio da meada.
De Tomboco, avistava-se, a uma distância de seis a sete quilómetros, em linha recta, para oeste, uma pequena elevação, de cume escalvado. E o nosso comandante de batalhão idealizou que ali, como marco de referência e símbolo da nossa identidade cristã, ficaria bem uma “cruz”, que se visse ao longe. Em consequência, e para concretizar a ideia, era mister fazer um reconhecimento do local, e avaliar as possibilidades de lançar mãos à obra.
Organizou-se, então, uma pequena expedição... Um jeep, um unimog 411 (um “pincha”) e uma secção de sapadores. Lá fomos, guiados pela carta e pela bússola, picada fora e a “corta capim”, à procura do morro preferido.
Atingimos o ponto de destino, e tentámos vislumbrar, ao longe, o aquartelamento. Desilusão! Àquela distancia, e por comparação com o que divisávamos dali, uma “cruz”, assim tão longe, e para o efeito pretendido, tinha de ser muito grande... (hoje podemos avaliar o problema, observando esses “viraventos” das “Eólicas” que nos rodeiam por aí).
Cumprida a missão, havia que empreender o regresso... Jeep à frente, pincha atrás, toca a andar, que a tarde cai. Mas nestas andanças há sempre imprevistos: o unimog, na dianteira, cortava o capim, abrindo trilho para o jeep, que o seguia. O capim era alto e denso ( - Que riqueza se isto fosse trigo!... – alguém comentava). Às tantas, o pincha começou a levantar-se à direita, ficou em diagonal, e tombou para a esquerda, num abrir e fechar de olhos. O pessoal foi projectado ao solo, atónito com o acontecido, mas ninguém se molestou. A viatura ficou tombada de lado. A roda dianteira direita tinha apanhado um monte da formiga “Salalé” (Térmitas), e a “gincana” não resultou. O tombar do unimog foi o resultado imediato e consequente.
Os “sapadores” estão “programados” para solucionar o que parece não ter solução. Improvisar, é a lei. Assim, todos à uma, depressa colocaram de novo o carro sobre rodas. Não houve grandes perdas...; simplesmente, a água do radiador tinha-se sumido. E os cantis estavam vazios... A viatura não podia continuar viagem... com o motor “sequioso”. Que fazer?
Dentro de momentos, todos os elementos da patrulha começaram a “verter águas” para o bocal do radiador... Era um recurso dos manuais da “Sobrevivência”. E desse modo apetrechámos o unimog para continuar a viagem, que se finalizou sem mais incidentes. Claro que, depois, o radiador haveria de ser devidamente lavado, na oficina...
Quanto à “cruz”... O comandante haveria de cumprir, mais tarde, o seu anseio. Foi erguida em Bessa Monteiro, no morro onde, em novo poiso, ficara o comando do batalhão. Branca, altiva, em memória dos que haviam caído pela Pátria, e para que lá, mais a oriente, os guerrilheiros do “Pedro Afamado”, na mata Sanga, a pudessem divisar, e saber que quem ali estava... estava por Bem, e não desejava a guerra, mas a Paz!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Que é o homem?!...

Queres saber o que vale o homem, visto em si próprio?
*
Sobe ao alto de uma montanha. Olha a cidade dos homens, a teus pés. Não consegues vislumbrá-lo! Não é de certa distância que se apreciam as obras de arte?...
O homem julga-se poderoso, rei e senhor. Em si próprio, nada é; olhado à distância, progressivamente desaparece.
Há tempos, num retiro espiritual, num santuário situado no alto da montanha, fui posto a contemplar a realidade do homem: seu princípio e seu fim, seu valor como criatura de Deus, como filho do Pai celeste, irmão de Cristo e feito ele próprio outro Cristo, pelo amor de Deus para com os homens.
Encontrei aí o homem verdadeiramente livre, sacerdote, em Cristo e por Ele; ainda, rei e profeta.
Encontrei-o aí “feito Deus”, na medida em que, libertando-se do seu egoísmo, do seu individualismo, se une a Cristo e com Ele se identifica numa plena entrega de amor recíproco, levando com Ele e por Ele ao Pai a oferenda da sua vida neste mundo; toda a sua vida, e através dela o Universo inteiro - que recebeu para dominar, e conduzir, em retorno, à glória de Deus.
Mas o homem egocêntrico, egoísta, orgulhoso de um poder que lhe não pertence, vaidoso da sua inteligência... Esse, tentei perscrutá-lo lá de cima, nas entranhas da sua cidade. Ele existia nela aos milhares; vagueava pelas ruas e pelas praças, mas não o pude enxergar, tão pequenino que era. Em contrapartida, que vista maravilhosa, que beleza, em todo o horizonte circundante, nos apresentava a obra da Criação!...
Experimenta! Sobe ao alto de uma montanha. A teus olhos estupefactos, maravilhados, vai crescendo a obra do Senhor, vai-se abrindo ao teu conhecimento a Sua sabedoria infinita, e vai desaparecendo da tua vista o homem, na sua pequenez progressiva, até se tornar irreconhecível! Já Saint-Exupéry o tinha notado, nas suas maravilhosas considerações literárias sobre o Homem.
Leste ou ouviste o que os astronautas, nos seus voos espaciais, deixam escapar de assombro pelas maravilhas que lá do espaço, extasiados, admiram? Mas ao homem, nem por sombras se referem.
Contudo, é este homem que ambiciona dominar os outros homens, que faz as guerras, que mata e que atraiçoa – qual vírus de terrível doença que ataca e tenta destruir a humanidade.
O homem, feito à imagem e semelhança de Deus, e para Ele criado, recebeu d’Ele um mandato. Mas não é escravo, é livre! – é verdadeiramente filho de Deus Criador. Ele vive a sua existência no amor de Deus. A sua vida, produto do Amor, tem de produzir amor – no sentido horizontal, para com os seus irmãos e no domínio das coisas criadas; no sentido vertical, para Cristo, onde tudo se reúne: o Universo físico, vital e espiritual, e a Divindade eterna.
Quão grande é o homem assim encarado, visto na sua autêntica dimensão mística e universal; quão grande é o homem que consciente do seu valor e da sua qualidade de filho adoptivo de Deus, orienta a sua vida para esse “Sol” que lhe deu o ser e que continuamente o ilumina; quão grande é a sua liberdade, sem quaisquer pressões ou peias a forçar ou a impedir o seu caminho!... Unido aos seus irmãos e a Cristo ressuscitado, está de passagem (Páscoa) nesta vida, e dela parte para o Eterno, onde o espera o “Alfa e o Ómega” de toda a Natureza criada.
Mas que infinitamente pequeno é aquela aberração de homem que julgando-se por si próprio deus e fazendo-se centro de todas as coisas, se aniquila e arrasta os outros ao mesmo caos!... Quantos homens na História se proclamaram “deuses” e senhores... e mais não se tornaram, no fim da vida, do que pó da terra, deixando no mundo um rasto de destruição e morte! Podem ter o seu nome escrito nos anais da História, mas é pela negativa que são lembrados.
Que homem queres ser tu, meu amigo?
O que sobe às alturas celestes e ilumina o mundo com o exemplo da sua vida, ou o que se reduz ao nada, na raiva da impotência e da ignomínia?
O que ajuda este mundo a transformar-se na virtude e no bem para glória do Criador, ou o que fechado no seu próprio interesse apenas se serve do mundo, e o leva à destruição?
O que se une por amor aos seus irmãos e com eles edifica a família e a comunidade em que vive, ou o que, impregnado de virulento ódio e de mesquinho egoísmo, explora os outros homens, despreza as suas enfermidades e carências, escraviza-os na injustiça, e os repele para a morte?
Operário ou patrão, professor ou aluno, pai ou filho, marido ou esposa, clérigo ou leigo, rico ou pobre, chefe ou subordinado... A tua vida é sagrada e a tua missão insubstituível. Faz delas o teu sacerdócio permanente, na humildade e no respeito pelos outros; na caridade e na justiça; na verdade e na liberdade. Formamos todos um só Corpo, Místico, de que Jesus Cristo é a cabeça e nós os membros. Toda a nossa vida é culto a Deus, nada – nem um só cabelo da nossa cabeça – é perdido. Não estejas só à espera da hora litúrgica, cerimonial, para O louvares no templo. Esse é um momento particular, mas tu mesmo és templo, porque Deus habita em ti, ainda que o pressintas distante. Deus chama-te hipócrita, como pelo Seu Verbo incarnado fustigou os fariseus, se fores orar para o templo e te negares ao culto permanente da tua vida. Atraiçoas a tua missão sacerdotal, comum a todos os que se dizem cristãos, se não fizeres da tua vida um cântico de louvor ao Deus que te criou!
Ouve-me, de homem para homem. Estamos a sós. Não deixes que as más inclinações invadam e dominem a tua alma, forcem ou impeçam as tuas decisões. És adulto, e és livre! Não te acorrentes às paixões! Não permitas que o egoísmo, o ódio, o despeito, a angústia te torturem.
Deito-te as mãos aos ombros e abano-te... Acorda! Acorda para a realidade que tu és, e olha para o que poderás vir a ser, para o que deves ser, para o que te realiza como pessoa, e, unicamente, te poderá fazer feliz. Encontra-te a ti mesmo, sempre à frente de ti próprio... A meta da perfeição situa-se sempre mais alto e mais além, e perde-se nos horizontes eternos.
Não te importes com o que dizem os outros... Perdoa-lhes, se te molestam; não faças caso, se te louvam. Só Deus conhece e aprecia o teu interior mais profundo. Melhor do que tu, e sempre antes de ti.
Quem está unido a Cristo, deve estar sempre disposto ao sacrifício. Ele foi coroado rei, mas puseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos. Não há amor sem doação; não há renovação sem a rejeição do que não presta. O vinho novo, vivificante, requer odres novos – diz o Senhor.
Dá-me a tua mão. Vamos tentar os dois. Passo a passo, caminhada em caminhada, de escolho em escolho... Se cairmos, levantar-nos-emos, com ajuda mútua. Que importa que sangrem os pés? Venceremos, e haveremos de levar outros pela mão.
(V.S. - Sameiro - Braga - 1972)
O homem, só se realiza como tal, peregrinando,
em busca do Ressuscitado;
o Ressuscitado, é Aquele que foi crucificado.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Os "abutres"

“Compramos a dinheiro ouro, prata, jóias... cautelas de penhor...” etc.

Nunca se viu tanta “OPA” (oferta pública de aquisição).

Os juros da dívida pública, em máximos históricos.

O desemprego atinge fasquias de recordes sucessivos.

O F.M.I., e os outros da “Troika”, aqui se instalam para injectar poder de compra e de despesa pública, através de bombas de “oxigénio” monetário, nos Bancos e no Tesouro estatal.

Depois de termos vivido vários anos no esbanjamento público e privado, à custa dos dinheiros que vinham da Alemanha e de outros países da União Europeia, agora ficámos “à rasca” porque nos apresentaram a factura... E que factura!...

Pobre povo, que afinal somos, e nunca aprendemos com os ensinamentos da História!

Mas já se vislumbra por aí uma tendência de regressar ao passado, corrigindo determinadas opções de comportamento politico e económico... Para a “governança”, defende-se uma “união” partidária, embora negando o espectro ameaçador do partido único do antigo regime (se no assento etéreo onde subiu, memória desta via se consente... o “homem da manta e das botas” deve estar a rir-se... e a dizer: “hão-de me dar razão”...); para a subsistência da grei, já se promove o regresso aos campos e ao mar, a fim de incrementar a agricultura e as pescas; em complemento, para minimizar as importações e equilibrar a balança comercial, advoga-se que se dê preferência, no consumo, aos produtos nacionais.

É claro que para uma verdadeira recuperação do Pais, mister se torna que haja um Governo forte, sensato, competente, honesto, com visão estratégica para definir os verdadeiros objectivos nacionais. E a pergunta, já que estamos à porta de eleições (mais umas!...) é: virão resolver o problema?

E qual é o problema deste Povo, do qual os Romanos já diziam, no tempo ido dos Lusitanos, que não nos governávamos nem nos deixávamos governar?!...

Estamos, caríssimos leitores, numa encruzilhada histórica. Outras já ficaram para trás! E as encruzilhadas históricas, por fatalidade, têm sido resolvidas com mais ou menos violência. O nosso mal, é que, por comodismo e exagerada ingenuidade, vamos deixando as dificuldades avolumarem-se até ao ponto de rotura... Temos o costume de esperar que as coisas se resolvam por si, e esticamos de mais a corda, até que se parte ela, e nos escaqueiramos todos por terra. Assim foi na transição da Monarquia para a República; na regeneração desta; no 28 de Maio; no 25 de Abril; no 25 de Novembro (para retro perspectivar apenas os anos mais recentes). É do senso comum, e já foi publicamente declarado por um conceituado analista, que, se não pertencêssemos hoje à União Europeia, já há muito que tinha havido um golpe de Estado em Portugal.

A nossa “doença” reside no sistema politico que temos e “nos políticos” que temos dentro desse sistema. Chamam ao sistema, “Democrático”; mas a Democracia, para o ser, tem de ser uma emanação significativa da vontade do povo, materializada em escolhas lúcidas, conscientes e responsáveis. Ora, o que hoje temos de significativo, é que o povo se alheia dessas escolhas – porque não tem muito por onde escolher, e não se revê, em termos de confiança, nas pessoas que lhe são apresentadas ao escrutínio. Assim, optam pela Abstenção. Nesta ordem de ideias, o eleitorado – que vai às urnas – não escolhe os cidadãos mais aptos para governar, mas vota na “camisola” da sua preferência “clubista”, motivada geralmente pela euforia demagógica da propaganda.

Repetimos: estamos numa encruzilhada histórica! Que nos vão trazer de novo as próximas eleições legislativas? Em quê, e em quem poderá, politicamente, residir a nossa já tão fraca esperança, para que os destinos de Portugal possam ser retomados com segurança e eficácia?!...

Os abutres andam por aí! São um triste sinal deste nosso tempo. Quando a carne do animal defunto começa a cheirar, putrefacta, eles surgem por todo o lado, enxameiam as redondezas... Pobre do nosso povo pobre!

A Independência de Portugal

“...Os homens da troika, em três semanas apenas, realizaram o que os ineptos que nos governam não tinham conseguido levar a cabo em vários anos: pôr de pé um programa para fazer face a um descalabro”. J. Cantiga. Esteves, ref. por V. G. Moura – DN 15Mai2011

Nos bancos da Escola, aprendemos que o condado Portucalense se tornou um país independente – Portugal - pela determinação de Afonso Henriques, que, após a vitória em Ourique contra os Mouros, em 1139, se afirma rei do Portugal nascente. Porém este estatuto apenas é reconhecido pelo rei de Leão e Castela a 5 de Outubro de 1143, através do tratado de Zamora, e confirmado pelo papa Alexandre III, em 1179, com a Bula “Manifestis Probatum”.

A independência de Portugal foi seriamente ameaçada mais tarde, no séc. XIV, com o interregno que se seguiu à morte de D. Fernando. Proclamado, D. João I de Portugal, pelas Cortes de Coimbra, teve o novo rei de enfrentar a oposição do seu homónimo de Castela, que resolveu invadir o nosso território. Nomeado Condestável do Reino, Nuno Álvares Pereira, hoje santo venerado nos altares, enfrentou o invasor, e venceu-o, definitivamente, na batalha de Aljubarrota. Aí está o Mosteiro de Santa Maria da Vitória para assinalar o feito, em paralelo com a lenda da padeira.

Depois de um período de expansão através dos oceanos, sob o impulso do Infante de Sagres, que conduziu Portugal à descoberta de novas terras e de novas gentes pelos cinco continentes do Mundo, e à formação de um Império, Portugal sofreu o desastre de Alcácer-Quibir, com a morte de D. Sebastião, que não deixou descendência.

Esta nova crise originou a união pessoal Ibérica, de 1580 a 1640, em que os reis de Espanha eram ao mesmo tempo reis de Portugal (a dinastia Filipina) – a nossa Independência ficou, deste modo hipotecada à monarquia espanhola. Mas não foi desta vez, ainda, o fim.

Com a revolta do “1º. de Dezembro de 1640”, das quatro dezenas de “Conjurados”, a prisão da espanhola Duquesa de Mântua (vice-Rei) e a morte do renegado Miguel de Vasconcelos (Secretário de Estado), é restaurada a Independência e levado ao trono lusitano D. João, Duque de Bragança. E uma nova era se inicia. Nos meus tempos de escola primária, ainda se cantava o Hino da Restauração, para relembrar o feito, mas isso foi-se da memória das nossas gentes, para no seu toutiço encaixar a “Grândola” e os acordes da “Internacional” (de resto, também melodias bonitas...).

Quase dois séculos depois, vieram as Invasões napoleónicas, e a Independência esteve outra vez por um fio... Salvou-se, porque a Corte foi para o Brasil, e três arremetidas das tropas francesas não foram suficientes para derrubar a nossa Liberdade (o Povo resistiu heroicamente, com ajuda dos nossos aliados Ingleses). Mas, pouco depois, foi-se o Brasil atrás do “grito do Ipiranga” (1822), e Portugal começou a recuar nos anseios imperiais que tinham dado novos mundos ao Mundo.

No princípio do século XX, o País estava cansado e depauperado, terreno de cultura para lutas intestinas de poder e de novas ideias politicas... A Monarquia caiu (1910). Não resistiu a um prévio, vergonhoso e criminoso Regicídio (1908). Instaurou-se a República, e com ela a prepotência anárquica, o descalabro governativo... Mas a Independência manteve-se, não sem o sacrifício de muitas vidas tombadas nos campos de batalha da Flandres e da França, numa Guerra mundial sangrenta (1914 a 1918), que devastou a Europa e nos martirizou em África.

Em 28 de Maio de 1926, um prestigiado general (Gomes da Costa) combatente em França encabeça uma nova revolução, e parte de Braga para Lisboa. Desfila, vitorioso, na Av. da Liberdade a 6 de Junho, à frente de 15 mil homens, provenientes de várias cidades do País, e é aclamado pelo povo da capital. Este movimento, após alguns incidentes políticos de percurso, dá origem ao Estado Novo de Salazar, que vai resistir, com alguma artimanha de politica internacional, a uma segunda Guerra mundial, a que Portugal se poupou, em termos bélicos.

Os chamados “Ventos da História” da libertação das colónias europeias fustigaram também o Ultramar português, e de novo Portugal se viu envolvido (1961 a 1974) em operações militares por esse mundo fora, sobretudo na Índia e na África, em defesa dos seus territórios e das suas gentes.

Após a morte de Salazar, o regime do Estado Novo, continuado, mitigado, por Marcelo Caetano, sofreu o colapso, em 25 de Abril de 1974, provocado pelo Golpe de Estado do Movimento das Forças Armadas, pouco depois a transformar-se em Revolução (de que é célebre o “Verão Quente de 75”). Nesta altura, de forte convulsão política e social, a Independência portuguesa esteve de novo ameaçada. Perante a agitação provocada pelas ideias e acções revolucionárias dos movimentos vários de Esquerda, os Estados Unidos da América e a própria Espanha não deixaram de admitir a hipótese de uma intervenção de força no nosso território. Foram as acções desencadeadas no “25 de Novembro”, em que o Norte do País representou papel relevante, que corrigiram o rumo da nossa História.

No fim de todo o seu percurso através dos tempos, e trinta e sete anos depois da maviosa “canção da Gaivota”, neste ano da graça de 2011, Portugal está reduzido ao seu torrão metropolitano e aos arquipélagos dos Açores e da Madeira... Tudo o mais se foi! Mas está, neste resto, consolidada a sua Independência?

Fazemos parte de uma comunidade política que se materializa na União Europeia. Obedecemos a leis e paradigmas que nos são impostos por outros poderes. Deixámos de ter moeda própria; andámos a gastar dinheiro que não era nosso, e continuamos a fazê-lo. Percorremos anos e anos à procura de um objectivo Nacional, e ainda não o encontrámos, porque perdemos as referências históricas que nos apegavam à vida. E agora, vieram uns senhores de fora, a que chamam “Troika”, a dizer como é que nos temos de governar... Mandam tirar do nosso bolso proventos para os quais trabalhámos uma vida inteira com suor e sangue... E pouca treta!!!

Onde pára, agora, a Independência de Portugal?!...

Quem são os novos Miguéis de Vasconcelos?!...

Para que da Memória se faça História

A caça aos búfalos...

Hoje, há uma grande propensão intencional em falar da nossa “guerra de África”, explorando apenas os seus lados negativos.

Bem sabemos que a Guerra, qualquer guerra, como dizia Vieira, - É ... aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta”...

Mas quando falamos do esforço pelas armas que Portugal suportou no Ultramar Português, de 1961 a 1974, não é para fazer a apologia da guerra em si, ou seja, da guerra pela guerra, mas para caracterizar o fenómeno humano vivido por tanta da nossa juventude em circunstâncias de particular sacrifício e de doação por ideais alimentados por uma cultura sócio-histórica onde radicam os valores que definem o conceito de Pátria.

E é sob este prisma que apreciamos este período muito particular da nossa história recente, de que as gerações mais novas apenas ouvem falar de modo enviesado, com conhecimento, só, do que “interessa” contar de modo ponderado pela ideologia do narrador. Pena é que, ainda hoje, não se possa falar verdade e sem paixão sobre este período tão importante que se viveu, e que, o que nos vai chegando por várias fontes – muitas! –, traga geralmente a marca de ideologias politicas ainda remanescentes, ou visem apenas o sensacionalismo e, com ele, o lucro editorial dos relatos.

Ora, atentemos neste testemunho, que respigámos de uma citação do insuspeito Alm. Rosa Coutinho, em artigo do Coronel Ref Manuel Bernardo:

(…) Quando a guerra colonial começou em Angola, com os massacres da UPA, em Março de 1961, se Salazar tivesse feito um referendo nacional sobre a questão de mandar tropas para lá, teria conseguido o apoio popular. (…) Cfr Alm. Rosa Coutinho, em 1994, in “Memórias da Rev.” , 2004.

É assim: uma coisa são os factos reais, outra o que se pensa, a posteriori, como deviam ser.

Uma coisa é a guerra e as suas motivações, justas ou injustas, outra é o seu decurso – o palco da luta, ou seja, o “teatro da guerra”, o seu desenrolar, independentemente do resultado final. E é aqui que surgem os actores, com feitos e com defeitos.

Os militares portugueses nas antigas províncias ultramarinas cumpriram, a mal ou a bem, uma missão de Estado, de soberania, patriótica. O período passado em África, geralmente garantindo a segurança de uma zona de acção em sistema de quadrícula, teve momentos bons e momentos maus, e uns e outros se recordam hoje, muitas vezes com saudade, ou dor. É um destes episódios que hoje aqui fica para a memória.

Estávamos aquartelados, em Moçambique, no distrito de Manica e Sofala, numa posição junto do rio Zambeze. Era uma zona sem problemas de guerrilha, na altura, e a nossa missão resumia-se a patrulhamentos de vigilância e apoio das populações. Era também uma região de muita caça, embora a Venatória já aí exercesse autoridade repressiva. A caça grossa, para reforço da alimentação da tropa, fazia-se de quando em vez, com as devidas precauções e regras, quase sempre de noite, com ajuda de farolim de cabeça.

Em certa ocasião, saímos com algumas viaturas, já noite adiantada, a ver o que dava... Eis senão quando se depara à nossa frente, em pleno mato, uma grande quantidade de luzeiros brilhantes, à medida que os focos de cabeça varriam a escuridão circundante. Todos gritaram: - São búfalos! E quem foi capaz de segurar aquela malta que constituía a “força” em presença?... Rompeu um ruidoso tiroteio. Os búfalos debandaram em tropel. Um deles ficou, atingido mortalmente. Que grande bicho!...

Seguiram-se as operações de recolha, com auxílio do guincho de uma berliet, passado o cabo respectivo por cima dum forte ramo de árvore vizinha, e carregou-se o produto da caçada.

A madrugada percorria o seu curso em direcção à alvorada, que já estava próxima.

Chegámos, de regresso, ao aquartelamento pelas 4 horas da manhã, já o dia despontava no horizonte. Logo cedo, o magarefe da Companhia, procedeu ao desmantelamento da peça, e o pessoal teve carne para tirar a barriga de misérias durante alguns dias.

E por um certo tempo se manteve a cabeça do cornudo, sobre um bidão, à entrada do quartel, em jeito de sentinela, como que a perguntar... – Quem vem lá?!...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Para que da memória se faça História

O dia em que caçámos um leão...

Regressávamos ao aquartelamento, depois de uma “operação” de rotina. Era já fim de tarde, e a noite cai depressa, depois de o sol desaparecer no horizonte, naquela zona tropical de África.

Estávamos já com o aquartelamento à vista. À frente, seguia o unimog 404 onde eu tomava lugar, ao lado do condutor. Na caixa da viatura, sentava-se uma secção de militares, costas com costas em banco central, prontos a responder a qualquer eventualidade de emergência. O carro não tinha taipais nem capota, como era de uso. Atrás de nós, uma berliet, com mais pessoal. Não recordo, de momento, o que tínhamos ido fazer, mas talvez regressássemos de Chiticula, onde estava colocado um pelotão da Companhia, estacionada no meio do distrito de Tete – Moçambique, cerca de 50 km a norte de Cabora Bassa, nas margens do rio Capoche, um ramo afluente do rio Zambeze.

De repente, os soldados alertam para uma peça de caça grossa que atravessa a estrada, da esquerda para a direita, e se embrenha na savana. Era uma tentação, a perspectiva de carne fresca que a ocasião nos oferecia. Logo se inicia a perseguição do animal - uma espécie de impala – que não resiste ao fogo certeiro dos nossos “caçadores” de ocasião.

A estrada tinha ficado a alguma distância, pela penetração das viaturas no mato. Enquanto o pessoal operava para recolher na berliet o produto da caçada, um soldado africano alerta em comentário:

- Ela (tratava-se de uma fêmea) ia a fugir do leão.

Logo perguntei:

- Como sabes isso?

Ele respondeu:

- Eu ouvi.

O que o militar queria dizer é que, entretanto, tinha ouvido um rugir de leão, nas proximidades, e esse facto causou-me alguma preocupação. Assim, ordenei que apressássemos o regresso à estrada (de terra batida), até porque a luz do dia ia desaparecendo progressivamente. Era quase noite.

Já na estrada, e uma vez carregada a caça na viatura, retomámos o movimento em direcção ao quartel, cujas luzes já se divisavam ao longe. Tudo ia bem, quando, a certo passo do andamento, aparece um vulto no meio do caminho, que fez o condutor abrandar a marcha e, até, parar. A noite tinha deixado cair o seu manto, e as viaturas circulavam já com os faróis ligados. De tal modo a figura se apresentava no lusco-fusco da penumbra, impávida e serena à nossa frente, que dava a ideia de ser uma pessoa... Alguém aventou que parecia “um homem em cuecas”. Confuso!

Levantei-me, e agarrei-me ao varão do pára-brisas... Disse para o condutor:

- e a luz nos máximos!

Assim aconteceu, e logo diante de nós, no meio da estrada, de caras, a cerca de oito a dez metros de distância, se nos apresenta a figura de um avantajado leão, com juba e tudo. Silêncio absoluto, só entrecortado pelo ralenti do motor do unimog. Ninguém ousava falar.

Sabia-se que, numa situação destas, o animal, encandeado pelos faróis do carro, tentaria um envolvimento para atacar a presa (nós) por trás... Talvez para isso, começou lentamente a virar-se de lado, e ficou numa posição perpendicular ao eixo da estrada. Na verdade, o receio, naquela altura, era que a fera saltasse sobre o pessoal que viajava a descoberto no unimog.

O que se passou a seguir, foi espontâneo, impensado, produto de reflexo. Vendo o animal naquele posição, senti que era a ocasião de jogar: ou tudo, ou nada, mas convicto de que não havia outra escolha. Dei comigo a levar a G3 à cara...; mirei a espádua do “bicho” (tinha a noção, adquirida, que desse modo atingiria o coração do animal) e disparei. O leão deu dois passos adiante, e aninhou. Os soldados alertavam que ele poderia estar a “fazer de conta”, e animal ferido é ainda mais perigoso.

Ninguém desceu da viatura para ir verificar se o leão fora ou não abatido. Manobrou-se o unimog de modo a ficar de frente e perto da “vítima”, e, pelo sim pelo não, confirmámos o “sucesso” com mais dois tiros. O leão estava morto!

Nova fase de carregamento: agora, do leão para junto da impala, na Berliet. Mas de novo o soldado africano que tinha, antes, ouvido o leão, voltou a avisar:

- A leoa deve estar por perto...

- Era o que havia de faltar!... Já chega, e é noite. Vamos embora!... - disse eu.

Entretanto, no quartel, o pessoal não sabendo o que se passava, mas apercebendo-se de que algo de anormal acontecia connosco, estava em palpos de aranha, e aprontava-se para qualquer eventualidade. Quando as viaturas galgaram a rampa de acesso e romperam pela parada adentro, todos nos aguardavam de olhos esbugalhados. Perante a algazarra dos que chegavam, em gáudio pela proeza levada a cabo, e ao verem o leão na berliet, morto, ao lado da impala, todos estouraram em euforia.

Era noite. Por isso, as fotografias ficaram para o dia seguinte, mas passados poucos minutos... o leão já não tinha rabo, nem dentes, nem unhas... Estes troféus desapareceram rapidamente... E logo de manhã, então, os rolos fotográficos da cantina esgotaram-se. Toda a gente quis tirar o retrato com o leão: acavalitavam o bicho, puxavam pela juba a sua grande cabeça contra o peito, ou punham o pé em cima do dorso... Foi um desfilar de pretensos heróis, em Cangombe.

Ainda se tentou aproveitar o último despojo “de guerra” – a pele. Porém, com o tempo, e com a chuva, acabou também por se estragar, apesar de aplicados alguns entendidos cuidados técnicos de curtimento para a preservar.

Do evento, ficaram mesmo, e só, as fotografias, para recordação da proeza... Afora quem se locupletou, à socapa, com o rabo, os dentes, e as unhas do leão... morto em legítima defesa.

Mas foi por causa deste acontecimento, que os soldados passaram a intitular a Companhia pelo listel " Leões do Capoche"

(CArt 2628/BArt 2897)

Para que da memória se faça História

“Os bombeiros do Capoche”

Dia quente era aquele, de Fevereiro de 1970, na ZOT – Zona Operacional de Tete, Moçambique. Duas horas da tarde. Depois da segunda refeição, andava eu com outro oficial a mostrar ao Fumo (chefe) da aldeia que se estava a formar junto ao aquartelamento o local onde iríamos, em princípio, erguer mais cubatas para as populações recuperadas que chegavam do mato...

Admirávamos, de cima da ponte, o curso do rio Capoche, acariciados por uma deliciosa aragem fresca que corria suave sobre as águas. Dava vontade de navegar, de canoa ou jangada, por ali abaixo, ao longo dos cinquenta quilómetros que nos separavam da barragem de Cabora Bassa, no Zambeze, já em construção.

A perturbar este remanso da Natureza, correu até nós, descendo a picada desde o aquartelamento - que ocupava um morro na margem esquerda deste rio - o cabo de serviço à estação de rádio, e gritou:

- Do Batalhão, mandam sair imediatamente uma patrulha até ao rio Luia era a mensagem que trazia o militar.

- Responde que não é preciso – repliquei - porque saiu há pouco tempo uma coluna nossa com esse destino.

E o cabo lá subiu ligeiro a encosta, de regresso ao rádio para transmitir a mensagem resposta.

Continuámos a deliciar o nosso olhar pela maravilhosa paisagem selvática africana, de uma beleza rude mas atraente, a pulsar de sonho e de mistério. Ao redor, um ou outro pássaro exótico competia, em sonoros acordes, com o marulhar das águas do rio na correnteza.

Mas eis que o cabo telefonista volta a descer em corrida e proclama ofegante:

- Dizem que é por isso mesmo... Ouviram um rebentamento, e pareceu-lhes ser para os lados da auto-estrada.

Chamávamos “auto-estrada” ao percurso de terra batida que ligava Cangombe, onde estávamos, até Moatize (Tete), passando pelos vários aquartelamentos das nossa tropas. O mais perto, a cerca de duas dezenas de quilómetros, era o do Luia, na margem esquerda do rio com esse nome, a confluir, mais a sul, com o nosso rio Capoche, rumo ao Zambeze. Cerca de uma légua mais á frente, encontrava-se o quartel do Comando do Batalhão, no Bene.

Ouvida a mensagem, não foi preciso mais nada. Rapidamente vencemos o caminho ascendente até ao aquartelamento. Aqui, já tudo andava em rebuliço. Havia só um “pincha” (unimog 411) e o carro da água (outro unimog 411 equipado com o tanque da água, para reabastecimento diário do quartel). Uma força de voluntários se constituiu, “enquanto o diabo esfregava um olho”. Passados instantes, já marchávamos estrada fora, com as únicas viaturas que estavam à nossa disposição: o “pincha”, à frente; o carro da água, atrás, com o pessoal encavalitado como podia naquele barrigudo com tentáculos de mangueira, a segurar estas com uma mão e a espingarda (G3) na outra.

Pontos perigosos do itinerário: saltar, correr em marcha apeada; subir de novo...

- Cuidado!!! O In pode associar qualquer emboscada ao que possa ter acontecido (todos supunham ter havido um rebentamento de mina...).

Divisa-se, mais além, uma coluna de fumo. Imagina-se logo um cenário de tragédia: viatura destruída, corpos despedaçados... - A coluna deve ter “apanhado” com uma mina – ouvia-se... Em nossa mente, pressentimentos cruéis: feridos, mutilados, dor, gemidos...

A estrada vai-se galgando, e o carro da água lá vai saltitando, atrás do pincha, todo vaidoso por também ser “operacional”. Na dianteira, os bravos soldados aperram as armas, prontos a ripostar a qualquer ataque inimigo.

- Talvez depois daquela curva... Ou daquela lomba...

Mas nada! O coração aperta-se... Surge a ponte sobre o rio Luia.

- Graças a Deus! Já estamos no Luia. Mas... e as viaturas?... A coluna?... A mina?... Os feridos?...

Percorremos toda a ponte, e logo mais adiante, à esquerda, o quartel da companhia do Luia.

Entrámos na área do aquartelamento. Ainda não eram três da tarde. As viaturas, apesar de apenas duas, fizeram um certo ruído. Logo apareceram, sonolentos, pela sesta interrompida, alguns militares... Oficiais, sargentos e praças, que olham para nós com ar estupefacto e interrogativo:

- Que se passa?!...

E vendo o “carro da água”:

- Onde é o incêndio?... Não chamámos os bombeiros!...

Viaturas paradas... Interrogação e surpresa em todos os rostos. Esperávamos uma notícia desagradável, e apenas isto nos surge!... Respirámos de alívio. Mas ali estava o carro da água com os soldados nele empoleirados, segurando as mangueiras e de olhos esbugalhados pelo insólito. Pareciam mesmo bombeiros à cata de um incêndio!...

Não tinha havido mina, felizmente. O nosso pessoal – a coluna – havia passado ali em boas condições, são e salvo, a caminho do Bene, e, pela rádio, soubemos que já se encontrava lá. Mais tarde, esclareceu-se que tudo surgiu porque, na área do Comando do Batalhão, algum espertinho tinha lançado uma granada de mão ofensiva na margem do ribeiro que perto corria, na mira de apanhar alguns peixes, e a explosão confundiu os “entendidos” daquela nossa tropa, associando o som do rebentamento a uma possível mina accionada na “auto-estrada”, por onde sabiam estar em marcha a nossa coluna de viaturas.

Para susto, tinha chegado. Lucrou-se o exercício de prontidão operacional, a qualquer custo, e com quaisquer meios... Mas não nos livrámos da chacota que os militares do Luia nos endereçavam a partir daí, e por esse feito ficámos a ser conhecidos como “Os Bombeiros do Capoche”.

(CArt 2628/BArt 2897)