segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Fim de Ano - 2007

Hoje encerra-se mais uma ano de percurso,

nesta caminhada terrena para o Reino do Pai.

Perdão e Misericórdia, Senhor, para as nossas infidelidades, o nosso egoísmo, as nossas ambições desprezíveis, os moinhos de vento contra os quais fomos lutando, num ano que devia ser todo de louvor, de doação, de testemunho da Tua Luz e Salvação. Reúne, Ó Pai, sob o cajado tranquilizador de Teu Filho, eterno Pastor do Teu rebanho, as ovelhas tresmalhadas que nos confiaste, para que sintam quanto é bom viver na comunhão do aprisco divino, onde haverá um só rebanho e um só Pastor. Que o Espírito nos guie, a todos, neste novo ano que amanhã começa, e nos conduza, pobres e fracos que somos, pelas veredas refrescantes do Teu Amor. Louvado sejas, Criador do Universo! Louvado sejas!

sábado, 22 de dezembro de 2007

Natal de Jesus

Natal é Festa, é Paz, Alegria;

Natal é Vida, é Amor, é Luz.

Mas ninguém tem Natal sem Maria;

E ninguém tem Natal sem Jesus.

Há luzes por todo lado em festa;

Há música, suaves canções;

Não há alegria como esta...

Mas estão fechados os corações.

Faz, Menino, que este mundo, agora,

Volte a procurar-Te num curral;

Porque anda perdido, a toda a hora,

Sem ver o Teu rosto em seu Natal.

Só na humilde gruta de Belém,

Te encontram, no meio da pobreza,

Para nos dares o supremo bem

Do perdão do Pai, nossa riqueza.

Deixa que uma réstia de luz

Aqueça as almas em orfandade,

E volta a nascer, meu bom Jesus,

No coração desta Humanidade!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Um Conto de Natal

O Menino fugia, dos «invasores»...

Há dias, tive um sonho bastante esquisito:

Aproveitava este solzinho de inverno, que tão bem sabe, especialmente quando o frio se faz sentir mais agreste, para fazer uma caminhada – coisa que gosto imenso de praticar. Levava comigo um destino, que do sonho me não ficou memória, mas nem por isso tinha escolhido o caminho mais perto para chegar até ele. Assim, dei umas tantas voltas por este nosso burgo. De facto, é a pé que prestamos mais atenção ao que nos rodeia: apreciamos a Natureza, cruzamos com pessoas amigas, e, às vezes, pomos em dia as nossas tagarelices.

O sonho parecia mesmo realidade... E assim fui reparando que, em quase todas os edifícios, havia uns macaquinhos à «benfica» empoleirados nos beirais das janelas, subindo, ou descendo, pelas grades das varandas, ou, até, rodeando as chaminés das casas. Fiquei perplexo. Tive mesmo a sensação de que tudo aquilo materializava uma invasão... Uma praga de alienígenas clonáveis a infestar o país, ou qualquer virose deixada por cá por tantos estrangeiros que aqui tinham vindo recentemente, da Europa e da África, a debater, mais uma vez, assuntos desde sempre debatidos e que nunca chegam a lado nenhum, apesar das cimeiras realizadas – que, ao menos, sempre constituem motivo para umas jantaradas e fotografias de família... (Repito que o sonho parecia realidade...)

Eis senão quando, deparo com uma criancinha, nuinha, a gatinhar, furtivamente, ao dobrar de uma esquina. Compadeci-me do menino, e debrucei-me em jeito de nele pegar ao colo. O menino, de tenra idade, estava aterrorizado de medo. Já falava... E muito baixinho, disse-me:

- Esconde-me! Não me leves de novo para o meu lugar, que eles querem matar-me.

E eu perguntei:

- Mas eles, quem?

Quase sussurrando, retorquiu:

- Esses bonecos de vermelho com um saco às costas.

- E quem são eles – questionei eu.

- Os «paisnatais» - respondeu a criança, com o dedo no nariz, como que a

pedir silêncio.

- E donde vieram? – indaguei.

- Do frio! Eles vieram do frio, lá do Norte...

Então, quis eu saber:

- E tu, onde estavas? Quem és?

- Eu estava num presépio, desses das montras... Sou o Menino Jesus.

Ora, no meu sonho, tinha eu passado ao longo da rua, e, na verdade, verificara com agrado que em várias montras das lojas dos Carvalhos havia um presépio montado, alguns, mesmo, muito giros. Mas não reparara se todos tinham o Menino nas palhinhas, ou se algum faltava...

O sonho afigurava-se-me de tal realidade, que eu não via naquele menino um «boneco», mas sim um menino de carne e osso. Seria uma visão? Começava a ficar com a minha cabeça já um pouco encortiçada... Até que perguntei:

- Mas escondo-te onde? Onde queres que te acolha, para não seres morto pelos «paisnatais»?...

A criança, já mais contente e confiante, posta assim face à minha abertura... respondeu prontamente:

- No teu coração. Acolhe-me no teu coração, se o tens ainda bem quentinho... Se ainda não o deixaste enregelar por esses «vermelhuços» que me querem expulsar do coração dos homens, e, o que é mais grave, do coração das crianças... como Eu!

Quando ia a pegar no miúdo, para o meter dentro do meu peito... acordei. E fiquei sem saber se tinha, realmente, acolhido... o «Menino Jesus», fugido de um presépio, com medo da invasão dos «paisnatais...

Já bem desperto, veio-me prontamente à memória as palavras de Cristo, no Evangelho:

«Quem não receber o reino de Deus como uma criancinha, não entrará nele» (Mc 10, 16).

E meditei:

Na verdade, o menino do sonho, encontrado, fugidio e aterrorizado, ao dobrar de uma esquina, tinha razão... Essa febre de «paisnatais» assaltantes que por aí anda está a matar... os «Meninos» dos presépios.

E sem estes... nunca haverá Natal!

V. S.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

NATAL 2007

Natal é Paz na humanidade em guerra;

É Luz que brilha e rasga a noite escura.

Natal é choro de criança pura;

É dom de Deus que nossa alma encerra.

Natal é sorriso de amor de Mãe;

É olhar de Pai complacente e bom.

Natal... é sentir quente o coração,

Em tudo aquilo que o mal não tem.

As portas se fecharam p’ra nascer

O Salvador do Mundo, em Belém.

Numa gruta se foram acolher

Maria e José, vindos de além...

Correm pastores, vão lestos receber

Um Rei, Menino-Deus, que à Terra vem!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Natal 2007

Há dois mil anos, nasceu

Em Belém (terra sofrida...),

Um Taumaturgo judeu...

Que morreu por nossa Vida

(Terceiro dia contado,

Madalena anunciou:

- Já não está sepultado,

É vivo! Ressuscitou!)

De profissão, carpinteiro;

Vida feita em Nazaré;

Proclamou pelo Mundo inteiro

Sua Palavra, nossa Fé.

Sua Mãe, Virgem Maria!

Em Seu rosto, olhar de Luz!

Deus connosco... Assim seria

Emanuel, e Jesus.

De José, seu protector,

Recebeu educação.

É nosso Rei e Senhor,

Filho de Deus, nosso Irmão.

Glória ao Pai nos altos céus!

Paz aos homens de bondade!

Veio a Salvação, de Deus,

Para toda a Humanidade.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Hoje, a Igreja celebra o Apóstolo Lucas. É dia de S. Lucas, o evangelista da Misericórdia de Deus. Deus é Amor, Perdão, Promessa de Vida Eterna. Que este médico do Reino nos ajude a curar as feridas da nossa alma, e nos prescreva o lenitivo necessário para continuarmos a nossa caminhada, por caminhos às vezes pedregosos, ao encontro do Salvador. Que ele rasgue o véu da escuridão ou penumbra espiritual que impede tantas almas de beberem o licor saboroso da Fé. Os homens fecham-se no seu racionalismo, quantas vezes orgulhoso... Racionalismo que não explica toda a dimensão da vida.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Oração da noite

Meu Deus e Senhor, É já muito tarde, e os meus olhos pedem o descanso do corpo. A minha mente queria continuar aqui à janela, mas foi já grande o esforço deste dia. Obrigado, meu Deus, por tudo... E perdão para os meus muitos defeitos, que hoje, de algum modo, me impediram de Te servir melhor. Melhor?!... Mas que fiz eu?... «Sem Mim nada podereis fazer» - Tu o disseste, meu Jesus! Senhor, Que amanhã, em novo dia, eu me levante com novas forças, para testemunhar, à minha volta, o Teu Amor! Amén!

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Terra, Mar e Céu

Manhã de Outono. Em baixo, Perosinho (Gaia), uma terra de gente cordata, culta, trabalhadora, amiga. Ao longe, o Mar. Zona costeira de Miramar, e Aguda. Mar azul escuro, ameno, suave, tranquilizante. Como tecto, o azul celeste, a imensidão do Universo. Bendito seja Deus que tudo criou, para bem do Homem. Pena é que o homem de hoje, que tudo herdou do homem do passado, esteja a dar cabo deste planeta tão belo, sem pensar que o homem do futuro... também tem direito a viver e a ser feliz.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Terminaram as festas na minha terra

Neste fim de semana celebraram-se as festa a S. Bartolomeu, na vila dos Carvalhos. Aqui fica um aspecto da capelinha, em iluminação nocturna. Esta capela é uma versão moderna, pois a antiga, muito antiga, consolidava uma devoção popular desde tempos remotos, anteriores à nacionalidade. O Príncipe D. Afonso Henriques já referia este monte de S. Bartolomeu na carta de couto (limites) concedida ao mosteiro beneditino de Pedroso, extinto no século XVI.

domingo, 26 de agosto de 2007

Sol poente em Celorico da Beira

Em 17 de Agosto, depois de uma visita ao Portugal raiano, belo, histórico, tranquilo, da Beira Alta, no regresso, o Sol brindou-nos, em Celorico da Beira, com um suave «adeus, até amanhã!». A Natureza também se expressa e fala com os humanos... A Natureza é voz de Deus, sacramento do Criador.

Sol poente em trovoada de Agosto

Ontem, o sol poente mostrava-se belo, quente, luminoso, aterrador...Tempo de trovoada. Calor de Agosto. Dir-se-ia que os céus se tinham incendiado. Sol poente, em horizonte luminoso. pintura quente, do Criador amoroso. Beleza forte, que vence a morte.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Sol nascente em Marialva

Como é bom ver nascer o Sol, por trás das montanhas, e rodeado de serras por todos os lados. A Natureza canta permanentemente um hino de vida e de alegria ao Criador. Como não havia Teilhard de Chardin de celebrar a sua «Missa sobre o Mundo»... * «... nestas estepes da Ásia, Senhor, não tenho pão, nem vinho nem altar, elevar-me-ei acima dos símbolos até à pura majestade do Real, e oferecer-vos-ei, eu, vosso sacerdote, sobre o altar da Terra inteira, o trabalho e as penas do Mundo.» * Era esta a sensação que me brotava da alma, nesta manhã de 17 de Agosto passado, ao contemplar as maravilhas de Deus, do alto do castelo da vila de Marialva. Grato, Senhor, por me dares a possibilidade de admirar o Teu poder e majestade, e de ouvir a Tua voz que fala no silêncio das coisas que criaste!. Louvado sejas!

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Há festa na minha terra!

Há festa na minha terra,

Estouram foguetes no ar;

Canta, dança e reza a gente...

E do mar até à serra

Se vê a Cruz a brilhar

Lá no monte, refulgente.

Ó Senhora da Saúde,

Em Teu Monte do Murado,

No Teu altar, tão formosa!

Aqui vim, logo que pude,

P´ra ficar sempre a Teu lado,

Mãe divina e poderosa.

Ó Senhora da Assunção,

Quem Te deu esse Menino

Que tens ao colo abraçado?

- «É Jesus, da Redenção,

Meu Filho, tão pequenino,

De imaculada concepção».

Bendita sejas, Senhora,

Por Teu Filho, e de Deus Pai,

Nosso Rei e Salvador!

Louvamos-Te, a toda a hora.

A vossa graça nos dai...

Em bênçãos do vosso Amor!

domingo, 5 de agosto de 2007

Nas lixeiras de Sarajevo

Toda a minha refeição da tarde

se revolvera no estômago...

frente àquelas imagens de Sarajevo.

Gente faminta,

competindo, entre si,

na lixeira da cidade,

pelo mais procurado petisco da pobreza:

os restos dos outros...

As migalhas caídas

das mesas abastadas da opulência.

Há sempre opulência e esbanjamento,

quando não se reparte,

com a fome dos outros,

as migalhas do pão de cada dia.

E há sempre pobreza e miséria,

quando os famintos buscam o seu pão...

nas lixeiras da cidade...

Como em Sarajevo!

Que humanos somos?!...

Que qualidade de cristãos é a nossa?!...

Mas foi bela a lição que deram,

esses pobres das sociedades modernas!

Prezaram a vergonha da sua indigência...

a mais sentida e pungente

dignidade do ser humano:

recusaram falar para a Televisão.

Buscam a sobrevivência...

mas desprezam a sensação

grosseira e vil

da devassa nos écrans do mundo.

Perderam tudo o que tinham a perder...

mas não vendem, ainda,

a riqueza da sua dignidade.

Senhor,

Tu, que não deixaste sem pão

a multidão dos que Te procuravam...

Tu, que disseste à Samaritana

possuíres fontes de água viva

para os sequiosos do Teu amor,

lança um olhar de piedade

a todos os Teus filhos famintos,

em sinal de que a verdadeira dignidade

não é a vergonha de ser pobre...

mas a riqueza da Esperança

de Salvação que a todos ofereces,

mesmo que em sofrimento,

e em derrota de Calvário...

como nas lixeiras de Sarajevo.

(Ano de 1995)

sábado, 4 de agosto de 2007

O Farol

Não podemos demandar o mar da vida desprezando o farol que nos alerta para os perigos imprevistos e nos assinala o porto seguro que nos espera e reserva acolhimento, missão cumprida. Senhor, Dá-me, e a cada um dos meus irmãos, a humildade bastante para confiar nessa luz, na Tua Luz, que dissipa as trevas traiçoeiras e nos mostra os escolhos fatídicos dos quais nos devemos afastar. Deixa que essa Luz rompa os nevoeiros dos dias de incerteza, e supere a espuma das ondas alterosas, para que não soçobremos no abismo. Que os ventos nos sejam propícios, ou a eles saibamos resistir, vencendo o medo que nos leva a perder a fé e, como Pedro, a gritar desesperados pelo Teu auxílio. Que a Luz do Teu Espírito Santo esteja sempre presente na rota do meu barco, do nosso barco, Senhor, para que seja feita, e só, a Tua vontade... que é vontade de confiança, de esperança e de Amor!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Não foras Tu, ó Mãe...

Deixa-me descansar no teu regaço,

Ó Mãe extremosa, em quem confio.

Deixa que te ofereça as minhas penas,

Os meus anseios e desgostos,

As minhas esperanças e desalentos...

Quanta solidão, por vezes, me reserva

O mundo agitado dos meus dias!

Não foras Tu, ó Mãe,

A quem iria?...

Para quê, tanta agitação sem Norte,

Tanta canseira e trabalho?...

Arrastam-me por caminhos e veredas,

Exigem de mim forças que não tenho.

Esperam confiantes

Proveito de seus anelos,

Como se em meu peito morasse

A felicidade que buscam... no vazio!...

Não foras Tu, ó Mãe...

A quem iria?...

Desfaleço, caio, levanto-me.

Galgam meus passos novamente a encosta

E cambaleio na berma do profundo.

Sinto medo.

Coragem que fenece...

Desisto e fujo.

Deixa-me descansar no teu regaço,

Ó Mãe extremosa,

Só em ti confio!

Não foras Tu, ó Mãe...

A quem iria?...

Buscar a Paz que me afaga,

O Amor que me tranquiliza,

A Esperança que me impele

Para a Fé de um amanhã em novo dia?!...

Deixa-me descansar no teu regaço.

Não foras Tu, ó Mãe...

Não foras Tu,

A quem iria?...

Deixa-me ficar contigo, Senhor!...

“Então Jesus disse aos Doze:

«Também vós quereis ir embora?»

Respondeu-lhe Simão Pedro:

«A quem iremos nós, Senhor? Tu tens

palavras de vida eterna!»

(Jo 6 67, 68)

..... .... .....

Nas margens do mar da Galileia, o Mestre arrebatava as multidões. Gente rude, violenta, de mãos calejadas e cabeça dura. Oprimidos pelo invasor romano, esperavam um libertador terreno, um rei... à maneira de David.

Depressa começaram a entender que as palavras daquele homem eram diferentes, novas, de um sentido profundo e envolto em mistério.

"- Tu tens palavras de vida eterna - diria Pedro, o escolhido para servir de pedra, fundamento de uma nova construção no mundo: um edifício humano, feito de pedras vivas, que jamais haveria de ruir.

Os homens, hoje, não são muito diferentes dos de então: egoístas, ambiciosos, violentos... Mas também de carne e osso, como os pescadores galileus: de coração frio e entendimento embotado; escravos do mundo que os rodeia; sem tempo para vislumbrarem uma réstia libertadora, de esperança, a rasgar as nuvens escuras dos interesses muito particulares nas malhas dos negócios e da política, em que se deixaram envolver.

Para eles - os homens de hoje -, para todos nós, para ti e para mim, a presença de Jesus continua a ser uma realidade quotidiana e consoladora.

A sua voz, as suas “palavras de vida eterna"... penetram-nos, num murmúrio interior, chegando ao mais íntimo de nós mesmos. Mas não queremos ouvi-las, não criamos espaço acolhedor no nosso espírito para que orientem as nossas atitudes, motivem a nossa vontade, e façam florescer à nossa volta testemunhos de um amor que liberta e salva.

Somos peças de máquina, neste nosso mundo doente e pervertido. Somos, muitas vezes, engrenagens ferrugentas que aviltam a harmonia da vida e a desviam do sentido último, do rumo à plenitude da existência.

Somos barro... que precisa das mãos do oleiro para ganhar beleza de forma e capacidade para servir.

Temos - todos - uma grande carência de silêncio, de serenidade... Dessa paz interior e nostálgica que levou as multidões a procurar e a imitar aquele homem simples e misterioso, o filho do carpinteiro, que nas margens do mar da Galileia falava às gentes que o procuravam... com "palavras de vida eterna".

No meio de todas as tribulações, e depois do barulho dos terramotos e tempestades que por vezes assolam a nossa precária condição humana, se conseguirmos dar um pouco de atenção aos sinais que o Senhor nos envia, e estabelecer sintonia com o Seu Espírito vivificador, poderemos dar conta de que Ele chega de mansinho, como a Elias, na suavidade da brisa matutina... Para se colocar à nossa frente, expectante e interrogativo.

Então, só nos resta fitar os seus olhos de infinita serenidade e maviosa candura, e responder baixinho:

- Não me quero ir embora, Senhor. Deixa-me ficar contigo!

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Sol nascente

Nasce o sol em novo dia,

Traz luz calor, alegria,

E vida nova em fervor.

Bendito sejas, Senhor,

Por este dom que dá vida,

Sempre, sempre renascida,

Do teu abraço de Amor.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Jovens de todos os países, uni-vos!

Perscrutai, Senhor, conhecei o meu coração,

examinai e conhecei os meus propósitos.

Vede se é errado o meu caminho,

conduzi-me pelo caminho do que é eterno.

(Salmo 139, 23 - 24)

Depois dos conflitos sociais decorrentes da situação criada pela revolução industrial e pelo consequente desenvolvimento tecnológico dos últimos séculos, surge hoje uma nova situação de conflito entre as gerações actuais.

Aos problemas laborais e à concentração do capital, a que deu lugar uma economia que elegia como objectivo principal o máximo lucro, com grande desequilíbrio de remuneração entre os factores de produção, especialmente entre o capital e o trabalho, emergiram as ideologias messiânicas de salvação terrena.

Subverteram-se os padrões tradicionais da sociedade, e, no passado século, emergiram os efeitos sócio-culturais e políticos de duas guerras mundiais.

Seguiu-se a contenção, tensa e ameaçadora, da guerra fria. Levantaram-se os movimentos de libertação dos povos colonizados, polarizando as energias bélicas das grandes potência do mundo.

Entretanto, na China e em França, a Revolução Cultural e o Maio 68 abalam toda a estrutura intelectual e moral da sociedade.

Finalmente, o desabar do muro de Berlim, após a abertura profética da "perestroika", vem desanuviar o confronto de paz podre entre os dois grande blocos do poder mundial.

Mas cedo a face da terra se viu semeada de lutas regionais, que continuam, ainda hoje, a espalhar a doença, a morte, a destruição e a fome por milhões e milhões de vítimas inocentes.

Como consequência de tudo isto, os valores em que assentava a consistência da pessoa humana foram-se esvaindo, deixando um profundo vazio nas almas, facilmente preenchido por contravalores que deixam caminho aberto a uma desenfreada corrida aos prazeres imediatos de uma vida fácil e egoísta, desumana.

Os conflitos culturais, disparados pelas novas técnicas de comunicação, aí estão a tomar lugar, na sociedade, às lutas laborais. Se estas eram violentas, aqueles são insidiosos: penetram, subvertem, destroem, aniquilam. Criam lentamente uma nova personalidade, um novo sentir, sendo a juventude o principal objectivo da conquista - o objectivo decisivo desta nova batalha pela conquista do mundo.

Os flagelos da droga e da sida, e o aumento em espiral da criminalidade, são indicadores fatídicos desta nova era, que a Política não enfrenta com eficácia, porque não pode nem sabe. O potencial de combate dos responsáveis pela governação do mundo está minado no interior, e não possui, por isso, capacidade para exercer plenamente o seu poder de decisão.

É, então, o fim?

Não!

Ao grito revolucionário do "Manifesto Comunista" de Marx e Engels - "Proletários de todos os países, uni-vos" -, que espalhou pelo mundo inteiro uma onda de revolta e de violência contra o capital e a burguesia, importa, hoje, contrapor e bradar aos ventos, com redobrado vigor:

" - Jovens de todos os países, uni-vos!".

Uni-vos e revoltai-vos!

Contra esta onda que vos avassala e destrói;

Contra a droga, que vos arruina a vida e vos conduz à morte prematura;

Contra os prazeres fáceis da vida, que embriagam e enganam;

Contra o sensualismo libertino que vos avilta e desonra;

Contra o egoísmo, que isola, e impede a convivência social com que se edifica o futuro;

Contra a perfídia dos que vos tentam cada vez mais arrastar para os requintados e nojentos atractivos da vida nocturna dos prazeres alienantes;

Contra tudo o que pretende fazer de vós instrumento de lucro, a qualquer pretexto.

Os encontros internacionais do saudoso João Paulo II, e, recentemente, do novo papa Bento XVI, com jovens de todo o mundo, são bem esse grito de alerta, que bem se desejaria ressoasse, em eco permanente, ultrapassando todas as fronteiras:

"Jovens de todos os países, uni-vos!"

Uni-vos e buscai a felicidade dos valores morais, que esta geração de educadores que tivestes e tendes vos impossibilitou e impossibilita de conhecer;

Uni-vos pela descoberta do Homem no próprio homem, deste homem que foi criado para viver no amor e na paz com os seus irmãos;

Uni-vos pela defesa da vossa própria honra e integridade contra todos os atractivos mundanos que corroem o cerne da vossa personalidade – a alma imortal que Deus vos concedeu.

Ainda é tempo! À vossa espera, está esse Deus que tentam apagar, por todos os meios, do mais íntimo de vós mesmos. Até Ele, abre-se diante de vós um caminho esplendoroso, um futuro promissor, uma felicidade tão grande que o próprio Universo não poderá conter.

Nas vossas mãos, na vossa determinação, no vosso amor - quantas vezes incompreendido e explorado -, está a força em que reside a esperança dos povos.

"O amor salva o mundo - dizia-vos João Paulo II, em Paris - constrói a sociedade, prepara a eternidade. O amor e o serviço sejam as regras primordiais da vossa vida! Aceitando seguir a Cristo - acrescentava o Santo Padre - anunciais que o caminho do amor perfeito passa pelo dom total e constante de vós mesmos".

Jovens de todos os países, uni-vos!... - e, com Cristo e a sua Igreja, sob a protecção e guia de Maria, a Mãe de toda a Esperança e Rainha da Paz, salvai este Mundo que vos perde, e, perdendo-vos, cambaleia na borda do abismo do desespero e da tragédia.

O Futuro da Humanidade está nas vossas mãos! Não deixeis que ele se perca...

Porque não há outra alternativa!

terça-feira, 24 de julho de 2007

Oração da noite

Ao ver nos jornais o caso daquela jovem mãe, prostituída e drogada, a morrer aos poucos na exclusão social do interior de um automóvel-sucata abandonado na rua... fiquei estarrecido no mais íntimo da humanidade do meu ser.

Sou culpado!

Todos somos culpados por esse e por tantos outros casos semelhantes!...

Somos viventes autómatos, embriagados e cegos pela abundância e pelo conforto de uma sociedade de opulência, indiferentes aos gemidos e aos clamores dos que vamos lançando para a geena deste mundo.

Sucata do ferro velho da vida, dentro da sucata do que já foi conforto do prazer... e, agora, é abandono em desperdício!

Na berma da rua!

Na indiferença vil dos humanos que passam... mas já não têm alma para sentir a dor alheia! Como eu!...

Morte lenta, ambulante, apoiada num toco de vassoura...

Nem direito ao conforto de uma simples muleta de pobre... ou de uma "canadiana" de mais remediado. Triste ironia de um destino perverso e macabro.

Como posso descansar no conforto do meu leito, quando no mundo há tantos cenários de desesperança?!...

Se, hoje, nos penitenciamos pelas atrocidades da história, perpetradas sacrilegamente em Teu nome, meu Deus, que fazemos nós para que, amanhã, a vergonha não caia sobre os filhos dos nossos filhos, por não termos sabido reconhecer-Te nos mais pobres e miseráveis dos nossos irmãos?

Senhor,

Ao terminar este meu dia,

no silêncio da noite onde Tu estás mais perto e atento,

peço-Te por essa pobre mãe que se vende para sobreviver...

Que se droga para esquecer o seu infortúnio...

Que caminha para a morte...

Apoiada num pau de vassoura velha...

Porque nós, seus irmãos...

Não temos a coragem de lhe dar o apoio do nosso braço...

O conforto acolhedor que já não mora em nosso coração endurecido!

sexta-feira, 20 de julho de 2007

O homem... no lixo

Senhor,

Penso naquele homem

encontrado num contentor de lixo.

Tu não tinhas pedra onde repousar a cabeça...

Aquele homem não encontrou outro refúgio

para habitar,

no descanso de uma noite fria e chuvosa.

Já não basta a procura do sustento

remexendo nos detritos fétidos da lixeira...

É também no meio do lixo,

no contentor do lixo,

que um ser humano já se acolhe para repousar!...

Que fizeram os homens do Homem?

Do homem que Tu criaste, meu Deus;

do homem a quem deste o Teu perdão;

do Homem que Tu próprio foste e és,

elevando-o, por adopção,

à dignidade da filiação divina?

Homem-lixo,

carregado pelos homens do lixo,

pronto a ser lançado

na montureira imunda de um aterro...

ou, mais modernamente,

a ser triturado ou prensado

pela maquinaria, irracional,

de qualquer estação de tratamento

de "resíduos sólidos urbanos"!

Senhor!

Tem pena desta miséria de homem que eu sou.

Dá-me sensibilidade bastante

para ver em cada um dos meus semelhantes

a fisionomia do Teu rosto.

Ajuda-me a encontrar-Te

em todo o ser humano,

por mais miserável que seja...

Em todo o ser da Tua maravilhosa Criação,

do Teu mundo de Amor.

E se, por desgraça,

não Te reconhecer

no meio das pequenas cruzes

que me rodeiam nos meus dias,

leva-me então, pela mão,

a procurar-Te no mais próximo contentor de lixo...

...Onde os homens desta era

levantaram mais um Calvário

para que sejas de novo crucificado...

... no corpo desta humanidade virada em lixo.