domingo, 5 de agosto de 2007

Nas lixeiras de Sarajevo

Toda a minha refeição da tarde

se revolvera no estômago...

frente àquelas imagens de Sarajevo.

Gente faminta,

competindo, entre si,

na lixeira da cidade,

pelo mais procurado petisco da pobreza:

os restos dos outros...

As migalhas caídas

das mesas abastadas da opulência.

Há sempre opulência e esbanjamento,

quando não se reparte,

com a fome dos outros,

as migalhas do pão de cada dia.

E há sempre pobreza e miséria,

quando os famintos buscam o seu pão...

nas lixeiras da cidade...

Como em Sarajevo!

Que humanos somos?!...

Que qualidade de cristãos é a nossa?!...

Mas foi bela a lição que deram,

esses pobres das sociedades modernas!

Prezaram a vergonha da sua indigência...

a mais sentida e pungente

dignidade do ser humano:

recusaram falar para a Televisão.

Buscam a sobrevivência...

mas desprezam a sensação

grosseira e vil

da devassa nos écrans do mundo.

Perderam tudo o que tinham a perder...

mas não vendem, ainda,

a riqueza da sua dignidade.

Senhor,

Tu, que não deixaste sem pão

a multidão dos que Te procuravam...

Tu, que disseste à Samaritana

possuíres fontes de água viva

para os sequiosos do Teu amor,

lança um olhar de piedade

a todos os Teus filhos famintos,

em sinal de que a verdadeira dignidade

não é a vergonha de ser pobre...

mas a riqueza da Esperança

de Salvação que a todos ofereces,

mesmo que em sofrimento,

e em derrota de Calvário...

como nas lixeiras de Sarajevo.

(Ano de 1995)

1 comentário:

Anónimo disse...

Eis como somos responsáveis diante da Palavra!