quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Deixa-me ficar contigo, Senhor!...

“Então Jesus disse aos Doze:

«Também vós quereis ir embora?»

Respondeu-lhe Simão Pedro:

«A quem iremos nós, Senhor? Tu tens

palavras de vida eterna!»

(Jo 6 67, 68)

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Nas margens do mar da Galileia, o Mestre arrebatava as multidões. Gente rude, violenta, de mãos calejadas e cabeça dura. Oprimidos pelo invasor romano, esperavam um libertador terreno, um rei... à maneira de David.

Depressa começaram a entender que as palavras daquele homem eram diferentes, novas, de um sentido profundo e envolto em mistério.

"- Tu tens palavras de vida eterna - diria Pedro, o escolhido para servir de pedra, fundamento de uma nova construção no mundo: um edifício humano, feito de pedras vivas, que jamais haveria de ruir.

Os homens, hoje, não são muito diferentes dos de então: egoístas, ambiciosos, violentos... Mas também de carne e osso, como os pescadores galileus: de coração frio e entendimento embotado; escravos do mundo que os rodeia; sem tempo para vislumbrarem uma réstia libertadora, de esperança, a rasgar as nuvens escuras dos interesses muito particulares nas malhas dos negócios e da política, em que se deixaram envolver.

Para eles - os homens de hoje -, para todos nós, para ti e para mim, a presença de Jesus continua a ser uma realidade quotidiana e consoladora.

A sua voz, as suas “palavras de vida eterna"... penetram-nos, num murmúrio interior, chegando ao mais íntimo de nós mesmos. Mas não queremos ouvi-las, não criamos espaço acolhedor no nosso espírito para que orientem as nossas atitudes, motivem a nossa vontade, e façam florescer à nossa volta testemunhos de um amor que liberta e salva.

Somos peças de máquina, neste nosso mundo doente e pervertido. Somos, muitas vezes, engrenagens ferrugentas que aviltam a harmonia da vida e a desviam do sentido último, do rumo à plenitude da existência.

Somos barro... que precisa das mãos do oleiro para ganhar beleza de forma e capacidade para servir.

Temos - todos - uma grande carência de silêncio, de serenidade... Dessa paz interior e nostálgica que levou as multidões a procurar e a imitar aquele homem simples e misterioso, o filho do carpinteiro, que nas margens do mar da Galileia falava às gentes que o procuravam... com "palavras de vida eterna".

No meio de todas as tribulações, e depois do barulho dos terramotos e tempestades que por vezes assolam a nossa precária condição humana, se conseguirmos dar um pouco de atenção aos sinais que o Senhor nos envia, e estabelecer sintonia com o Seu Espírito vivificador, poderemos dar conta de que Ele chega de mansinho, como a Elias, na suavidade da brisa matutina... Para se colocar à nossa frente, expectante e interrogativo.

Então, só nos resta fitar os seus olhos de infinita serenidade e maviosa candura, e responder baixinho:

- Não me quero ir embora, Senhor. Deixa-me ficar contigo!

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