quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Independência de Portugal

“...Os homens da troika, em três semanas apenas, realizaram o que os ineptos que nos governam não tinham conseguido levar a cabo em vários anos: pôr de pé um programa para fazer face a um descalabro”. J. Cantiga. Esteves, ref. por V. G. Moura – DN 15Mai2011

Nos bancos da Escola, aprendemos que o condado Portucalense se tornou um país independente – Portugal - pela determinação de Afonso Henriques, que, após a vitória em Ourique contra os Mouros, em 1139, se afirma rei do Portugal nascente. Porém este estatuto apenas é reconhecido pelo rei de Leão e Castela a 5 de Outubro de 1143, através do tratado de Zamora, e confirmado pelo papa Alexandre III, em 1179, com a Bula “Manifestis Probatum”.

A independência de Portugal foi seriamente ameaçada mais tarde, no séc. XIV, com o interregno que se seguiu à morte de D. Fernando. Proclamado, D. João I de Portugal, pelas Cortes de Coimbra, teve o novo rei de enfrentar a oposição do seu homónimo de Castela, que resolveu invadir o nosso território. Nomeado Condestável do Reino, Nuno Álvares Pereira, hoje santo venerado nos altares, enfrentou o invasor, e venceu-o, definitivamente, na batalha de Aljubarrota. Aí está o Mosteiro de Santa Maria da Vitória para assinalar o feito, em paralelo com a lenda da padeira.

Depois de um período de expansão através dos oceanos, sob o impulso do Infante de Sagres, que conduziu Portugal à descoberta de novas terras e de novas gentes pelos cinco continentes do Mundo, e à formação de um Império, Portugal sofreu o desastre de Alcácer-Quibir, com a morte de D. Sebastião, que não deixou descendência.

Esta nova crise originou a união pessoal Ibérica, de 1580 a 1640, em que os reis de Espanha eram ao mesmo tempo reis de Portugal (a dinastia Filipina) – a nossa Independência ficou, deste modo hipotecada à monarquia espanhola. Mas não foi desta vez, ainda, o fim.

Com a revolta do “1º. de Dezembro de 1640”, das quatro dezenas de “Conjurados”, a prisão da espanhola Duquesa de Mântua (vice-Rei) e a morte do renegado Miguel de Vasconcelos (Secretário de Estado), é restaurada a Independência e levado ao trono lusitano D. João, Duque de Bragança. E uma nova era se inicia. Nos meus tempos de escola primária, ainda se cantava o Hino da Restauração, para relembrar o feito, mas isso foi-se da memória das nossas gentes, para no seu toutiço encaixar a “Grândola” e os acordes da “Internacional” (de resto, também melodias bonitas...).

Quase dois séculos depois, vieram as Invasões napoleónicas, e a Independência esteve outra vez por um fio... Salvou-se, porque a Corte foi para o Brasil, e três arremetidas das tropas francesas não foram suficientes para derrubar a nossa Liberdade (o Povo resistiu heroicamente, com ajuda dos nossos aliados Ingleses). Mas, pouco depois, foi-se o Brasil atrás do “grito do Ipiranga” (1822), e Portugal começou a recuar nos anseios imperiais que tinham dado novos mundos ao Mundo.

No princípio do século XX, o País estava cansado e depauperado, terreno de cultura para lutas intestinas de poder e de novas ideias politicas... A Monarquia caiu (1910). Não resistiu a um prévio, vergonhoso e criminoso Regicídio (1908). Instaurou-se a República, e com ela a prepotência anárquica, o descalabro governativo... Mas a Independência manteve-se, não sem o sacrifício de muitas vidas tombadas nos campos de batalha da Flandres e da França, numa Guerra mundial sangrenta (1914 a 1918), que devastou a Europa e nos martirizou em África.

Em 28 de Maio de 1926, um prestigiado general (Gomes da Costa) combatente em França encabeça uma nova revolução, e parte de Braga para Lisboa. Desfila, vitorioso, na Av. da Liberdade a 6 de Junho, à frente de 15 mil homens, provenientes de várias cidades do País, e é aclamado pelo povo da capital. Este movimento, após alguns incidentes políticos de percurso, dá origem ao Estado Novo de Salazar, que vai resistir, com alguma artimanha de politica internacional, a uma segunda Guerra mundial, a que Portugal se poupou, em termos bélicos.

Os chamados “Ventos da História” da libertação das colónias europeias fustigaram também o Ultramar português, e de novo Portugal se viu envolvido (1961 a 1974) em operações militares por esse mundo fora, sobretudo na Índia e na África, em defesa dos seus territórios e das suas gentes.

Após a morte de Salazar, o regime do Estado Novo, continuado, mitigado, por Marcelo Caetano, sofreu o colapso, em 25 de Abril de 1974, provocado pelo Golpe de Estado do Movimento das Forças Armadas, pouco depois a transformar-se em Revolução (de que é célebre o “Verão Quente de 75”). Nesta altura, de forte convulsão política e social, a Independência portuguesa esteve de novo ameaçada. Perante a agitação provocada pelas ideias e acções revolucionárias dos movimentos vários de Esquerda, os Estados Unidos da América e a própria Espanha não deixaram de admitir a hipótese de uma intervenção de força no nosso território. Foram as acções desencadeadas no “25 de Novembro”, em que o Norte do País representou papel relevante, que corrigiram o rumo da nossa História.

No fim de todo o seu percurso através dos tempos, e trinta e sete anos depois da maviosa “canção da Gaivota”, neste ano da graça de 2011, Portugal está reduzido ao seu torrão metropolitano e aos arquipélagos dos Açores e da Madeira... Tudo o mais se foi! Mas está, neste resto, consolidada a sua Independência?

Fazemos parte de uma comunidade política que se materializa na União Europeia. Obedecemos a leis e paradigmas que nos são impostos por outros poderes. Deixámos de ter moeda própria; andámos a gastar dinheiro que não era nosso, e continuamos a fazê-lo. Percorremos anos e anos à procura de um objectivo Nacional, e ainda não o encontrámos, porque perdemos as referências históricas que nos apegavam à vida. E agora, vieram uns senhores de fora, a que chamam “Troika”, a dizer como é que nos temos de governar... Mandam tirar do nosso bolso proventos para os quais trabalhámos uma vida inteira com suor e sangue... E pouca treta!!!

Onde pára, agora, a Independência de Portugal?!...

Quem são os novos Miguéis de Vasconcelos?!...

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