terça-feira, 3 de novembro de 2009

Para que da Memória se faça História

Apontamentos de um soldado em África - 14
Moralidade
Há tempos, li, numa revista angolana, um protesto escrito pela sua própria Direcção contra uma carta que alguém, com razoável bom senso, dirigira àquele órgão de imprensa, desaprovando certas ilustrações mais ou menos mundanas que o mesmo publicava de quando em vez. Li... e senti tristeza ao tomar conhecimento do critério pouco seguro e capcioso que essa revista utilizava para justificar as suas gravuras.
Não é sistema novo, explorar o sensualismo do leitor para que qualquer publicação atinja grandes tiragens. Infelizmente, a formação moral da nossa gente parece ter entrado em decaída. E se tal se pode afirmar da gente já madura, é trágica verdade que a nossa juventude sofre horrivelmente de idêntico mal. Assim, o melhor meio que qualquer editor menos sério tem a utilizar para obter grandes vendas das suas obras é “prantar” nas suas capas espampanantes figuras manchadas pelo indecoro moral, e célebres, muitas vezes, pelos escândalos mais escabrosos.
Só uma consciência empedernida poderá ficar insensível perante tais agentes de corrupção e, até, negar os seus efeitos tão deletérios. Só uma mente pervertida pode atribuir a esses manejos do mafarrico uma benéfica manifestação da mais pura arte.
Atravessamos um período acutilante, neste aspecto da vida. A pornografia, descarada ou camuflada, entra por todas as portas e em toda a parte. Vozes diversas têm clamado por todos os cantos contra esta invasão terrível. O alarme chega a tocar nos próprios estabelecimentos de ensino.
Também em Angola a campainha tem de soar. Quem pode – e todos podemos - deve trabalhar contra esta arremetida do inimigo.
Alguém disse, há muitos anos: “A corrupção há-de penetrar de tal modo em vosso meio, que, quando os vossos exércitos forem chamados a intervir, eles se desmoronarão. Não há dúvidas, pois, quanto à táctica inimiga. O materialismo marxista penetrará por qualquer forma e com os meios mais apropriados. A nossa juventude, uma vez pervertida, entrará nas fileiras já vencida e sem forças para segurar as armas. E mesmo sob a farda, os ventos da imoralidade não deixarão de a sacudir, porque eles nada poupam.
Há quem chame à pornografia “motores de arranque”. Talvez, à semelhança de imoralidades praticadas em algumas guerras, com o fim de levantar o ânimo à soldadesca vencida pelo tédio!...
Ah!... Se todos os exércitos tivessem um Nun'Álvares por chefe!... Que outro lenitivo mais forte pode um soldado cristão escolher, se não o seu Cristo, que no madeiro resgatou o mundo?!... Foi a Cruz que se ergueu sobre a terra, e não o abismo da ignomínia e da devassidão!
Clamemos, clamemos sempre! Lutemos, lutemos sem tréguas! Rezemos, rezemos com piedade! O inimigo avança traiçoeiro e quer minar os alicerces da nossa integridade. Urge abrir os olhos aos incautos. É grande mister sanar o ambiente conspurcado pelas mais corrosivas produções, e, sobretudo à nossa juventude, mostrar a luz deslumbrante da verdadeira moralidade, sem a qual a vida é caos insuportável.
Angola - Maio de 1964

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