segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O futuro vai ser dos delinquentes?...

Há poucos anos atrás, vi escrito já não sei em que fonte, que o futuro ia ser dos delinquentes. Quer dizer: a Sociedade estava condenada a ser dominada pelos delinquentes, pelos fora-da-lei.

Uma outra versão é a de que os vírus de tal modo proliferarão na Terra, que acabarão por exterminar a Humanidade. Da guerra entre o homem e os vírus, aquele não logrará êxito na descoberta de medicamentos que eliminem os segundos.

Não sabemos se esta perspectiva dramática, terrível, em qualquer das versões, terá alguma consistência. Mas o certo é que o homem se encontra, neste momento da História, numa encruzilhada fatal. Ou trata de se descobrir a si próprio, ou então, na ignorância do seu «ser», da sua «origem» e do seu «destino»... cai facilmente na loucura da violência, originada pela competição de interesses, pela vontade de poder e de domínio, pelo ódio incontido e pela vingança. Aniquila-se a si próprio. «Homo homini lupus», já assim pensava Plauto.

Não sabemos, pois, qual é a maior ameaça à vida humana... Se as doenças que as bactérias e os vírus se encarregam de renovar sobre o planeta; se o próprio homem, que não resistindo à tentação de «ser como deus» - a primeira, do «Paraíso» -, com facilidade investe na segunda – a de matar o seu irmão (a tentação bíblica de Caim).

Os mais cépticos afirmam que a Humanidade não tem futuro... feliz. E este cepticismo está, modernamente, a ganhar adeptos cada vez em maior número, entre nós. Sobretudo, entre os que, não acreditando em Deus, desacreditam também do homem. Daqui até ao existencialismo militante, até ao hedonismo selvático, vai apenas um passo. Tudo vale. Tudo é permitido. Este mundo… «são dois dias» – dizem; se todos fazem assim, por que não hei-de fazer também?

O salmista pergunta na Escritura: Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes? O Cardeal Fénelon proclamava que L’homme s’agite, mais Dieu le méne (O homem se agita, mas Deus o conduz). Augusto Comte chamou este pensamento ao seu positivismo e deu-lhe nova face: O homem se agita e a Humanidade o conduz. Mas para onde está o homem a conduzir a Humanidade, ou – vice-versa – como está a Humanidade a conduzir o homem e para onde?

Perdendo as referências existenciais da sua natureza, o homem mergulha no niilismo, aniquila-se a si próprio, animaliza-se, desespera, torna-se inadaptado e delinquente na sociedade; os jovens anestesiam-se no ambiente estonteante das discotecas; o álcool e a droga são fugas para o abismo; a doença, principalmente uma consequência do seu comportamento degradante. A guerra, com toda a atrocidade da sua violência cega, e com toda a injustiça dos seus meios cada vez mais sofisticados e letais, é o paroxismo da desumanidade instalada no mundo – a negação do próprio «ser» humano.

A sociedade em que vivemos está degradada. Por isso, o crime organizado, a corrupção, o abuso de poder, a ambição... generalizam-se e ameaçam mais ainda o futuro que nos espera. A Ecologia não é respeitada. Os valores morais esvaíram-se dos programas dos políticos, e dos manuais das escolas. E sem moral não há Ética que possa regular e harmonizar a vida social; não se constrói comunidade; não se promove a solidariedade. O lucro e o sexo são idolatrias avassaladoras que tiranizam a cidade. O próprio conceito de amor aviltou-se, animalizou-se, instrumentalizou-se...

E só o amor, autêntico, é capaz de salvar a Humanidade!

De contrário... Sim, no futuro haverá, cada vez mais, delinquentes! E o mundo dos homens se transformará numa selva inóspita.

Fiquemos, contudo, com as convicções de Fénelon. Que a Esperança cristã nos dê força e confiança!

V. N. dos Santos

In Jornal dos Carvalhos, Jan 09

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