domingo, 18 de março de 2012

Para que da Memória se faça História

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Feitos e factos da descolonização da Guiné - 1
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É sempre grande e perpétuo o dia que se assinala solenemente como único, e porque único só na lembrança e no coração se projecta no futuro.
4 de Setembro de 1974 foi um dia grande para o BCav 8323. Na parada do BCP 12, em Bissalanca, Guiné (Bissau), cerca de 500 homens se uniram em formatura geral do Batalhão. Não foi apenas “ronco”.
“Ronco” é aquilo que só fica na superficialidade dos acontecimentos. “Ronco” é aparato, condimento... e - quantas vezes! – vaidade.
O BCav formou. Uniram-se os Cavaleiros de Pirada, na esteira de outros que por lá passaram, amassando e amargurando o “pão do diabo”.
Formatura, com certeza, com muitas falhas, colorida, embora, com os lenços pretos, azuis, vermelhos e amarelos, ao pescoço de cada um. Dentro do peito, palpitava em todos no coração a dignidade do Soldado Português, que enfrentou os perigos de uma guerra dura, dilacerante, subversiva de cariz politico, mas que soube outrossim, na hora própria, abraçar os que havia enfrentado como inimigos, construindo e consolidando a Paz, sem ressentimentos ou rancores, porque o verdadeiro soldado não odeia, ama, mesmo na atrocidade das batalhas.
Aqueles 500 homens ouviram o seu Comandante, num eloquente improviso pleno de gratidão e homenagem àqueles que orgulhosamente chefiou. O coronel Jorge Mathias (hoje, de saudosa memória) lembrou os que sofreram, digna e heroicamente, no “inferno” de Copá, e chamou, numa evocação saudosa, os que caíram para sempre, a cimentarem com a carne e o sangue os alicerces da Pátria.
Não esqueceu, também, os ausentes por motivos de evacuação, com menção especial do capitão Ângelo Cruz, ex-comandante da 1ª. Companhia, mutilado em combate.
Dirigiu-se depois às tropas o comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, Brigadeiro graduado Carlos Fabião, que distinguiu o BCav com a sua presença pessoal e amiga, neste acto solene e final da Unidade. Endereçou aos militares palavras de reconhecimento e louvor, pelo seu esforço e pela disciplina sempre patente. Apontou-lhes os caminhos da Paz e da Liberdade que todos – disse – “vão encontrar num Portugal renovado, para o que devem estar preparados, com o mesmo esforço e denodo com que cumpriram a sua missão nas terras da Guiné”.
Após a distribuição de prémios aos graduados e praças que mais se evidenciaram no cumprimento dos seus deveres, numa apreciação global da respectiva conduta, o BCav 8323 desfilou em continência perante aquela primeira Entidade grada da Guiné... que fora solo de Portugal.
Terminara a missão. Valeu a pena?
À frente estava o futuro. O futuro incerto. O futuro que se veio a concretizar em muitas desilusões e tragédias. O futuro que julga a História! Porém, ao Soldado, apenas se exige que cumpra os objectivos da Politica... E é ao Povo que se reserva o direito de julgar a Politica.

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