terça-feira, 3 de julho de 2007

Um Pôr-de-Sol africano

Surgiste suave, sereno, Ao longe, de manhã, pela frescura. Deste os bons dias em tom ameno; Mandaste calor, vida pura. *** Deste ao mundo luz brilhante; Deste beleza sem par. Mas agora vais distante... Já não te vejo raiante, Vais-te embora... Vais para o mar. *** Com pena de ti, rosado, Todo o céu fica em tristeza. Beijaste-o, envergonhado, Mas ele chora, coitado, Vai perder sua beleza. *** Meus olhos seguem também Teu rasto no fim do dia. E a crua saudade vem Mergulhar-me em nostalgia... *** Lembro meus pais, meus irmãos... Minha noiva – oh!, Senhor! Que não sejam todos vãos Meus passos que nestes chãos Deixam pegadas de amor! *** E o Sol vai... Já não espera... Vai fugir, fugir do céu... Como eu também quisera Fazer dele uma galera E partir... ver o que é meu!... *** Mas ele vai... vai sozinho... Sozinho, por esses ares... Dois anos, nesse caminho, Dia a dia, de mansinho, Vens e vais sem me levares!... *** Se passares à minha terra, Diz aos que choram por mim: - Ele está longe, na guerra, Mas seu peito ainda encerra Força que o leve ao seu fim... *** E diz que o meu coração Não esquece ninguém que ama. A Deus, na minha oração, Por todos levo intenção, Nesta empresa que me chama! *** Enfim... A luz se fenece... E o dia morre em seu dano! Teu rosto desaparece... A noite na terra cresce... Um Pôr-de-Sol africano!... *** Angola, 27 Jan 63 *** V.S.

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